Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou a 30/10/1821 e morreu em 28/01/1881, com 59 anos. Críticos e leitores fizeram dele um dos maiores autores russos de todos os tempos.
Boris Schnaiderman, naturalizado brasileiro, considerado um dos maiores tradutores do russo em nossa língua. Prêmio de Tradução da Academia Brasileira de Letras em 2003, concedido pela primeira vez. Nasceu em Úman, na Ucrânia, em 1917.
Os textos que mais gostei foram estes:
"Estou agora com quarenta anos; e quarenta anos são, na realidade, a vida toda; de fato, isso constitui a mais avançada velhice. Viver além dos quarenta é indecente, vulgar, imoral! Quem é que vive além dos quarenta? Respondei-me sincera e honestamente. Vou dizer-vos: os imbecis e os canalhas. Vou dizer isto na cara de todos esses anciães respeitáveis e perfumados; de cabelos argênteos! Vou dizê-lo na cara de todo mundo! Tenho direito de falar assim, porque eu mesmo hei de viver até os sessenta! até os setenta! até os oitenta!... Um momento! Deixai-me tomar fôlego..."
"Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio, e, em cada homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas no gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui."
"Fica ainda uma pergunta: para que, em suma, quero eu escrever? Se não é para um público, não se poderia recordar tudo mentalmente, sem lançar mão do papel?
Assim é; mas, por escrito, isto sairá, de certo modo, solene. O papel tem algo que intimida, haverá mais severidade comigo mesmo, o estilo há de lucrar. Além disso, é possível que as anotações me tragam realmente um alívio. Agora, por exemplo, pressiona-me particularmente uma remota recordação. Lembrei-me disso com nitidiz há poucos dias e, desde então, ela ficou comigo, qual um motivo musical magoado, que não nos quer deixar. E, assim mesmo, é preciso livrar-se dele. Tenho centenas de tais recordações; mas, de tempos em tempos, uma delas destaca-se das demais e passa a pressionar-me. Não sei por quê, mas acredito que, se eu a anotar, há de me deixar em paz. E por que não tentar?
Finalmente: estou enfadado e, no entanto, permaneço sem fazer nada. E o ato de anotar é de fato como que um trabalho. Dizem que o trabalho torna o homem bom e honesto. Bem, aí está pelo menos uma probabilidade favorável."
"Deixai-nos sozinhos, sem um livro, e imediatamente ficaremos confusos, vamos perder-nos; não sabemos a quem aderir, a quem nos ater, o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar."
"Oh! se eu não fizesse nada unicamente, por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então! Respeitar-me-ia justamente porque teria a capacidade de possuir em mim ao menos a preguiça; haveria, pelo menos, uma propriedade como que positiva, e da qual eu estaria certo. Pergunta: quem é? Resposta: um preguiçoso. Seria muito agradável ouvir isto a meu respeito. Significaria que fui definido positivamente; haveria o que dizer de mim. "Preguiçoso!" realmente é um título e uma nomeação, é uma carreira. Não brinqueis, é assim mesmo. Seria então, de direito, membro do primeiro dos clubes, e ocupar-me-ia apenas em me respeitar incessantemente."
Boris Schnaiderman, naturalizado brasileiro, considerado um dos maiores tradutores do russo em nossa língua. Prêmio de Tradução da Academia Brasileira de Letras em 2003, concedido pela primeira vez. Nasceu em Úman, na Ucrânia, em 1917.
Os textos que mais gostei foram estes:
"Estou agora com quarenta anos; e quarenta anos são, na realidade, a vida toda; de fato, isso constitui a mais avançada velhice. Viver além dos quarenta é indecente, vulgar, imoral! Quem é que vive além dos quarenta? Respondei-me sincera e honestamente. Vou dizer-vos: os imbecis e os canalhas. Vou dizer isto na cara de todos esses anciães respeitáveis e perfumados; de cabelos argênteos! Vou dizê-lo na cara de todo mundo! Tenho direito de falar assim, porque eu mesmo hei de viver até os sessenta! até os setenta! até os oitenta!... Um momento! Deixai-me tomar fôlego..."
"Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio, e, em cada homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas no gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui."
"Fica ainda uma pergunta: para que, em suma, quero eu escrever? Se não é para um público, não se poderia recordar tudo mentalmente, sem lançar mão do papel?
Assim é; mas, por escrito, isto sairá, de certo modo, solene. O papel tem algo que intimida, haverá mais severidade comigo mesmo, o estilo há de lucrar. Além disso, é possível que as anotações me tragam realmente um alívio. Agora, por exemplo, pressiona-me particularmente uma remota recordação. Lembrei-me disso com nitidiz há poucos dias e, desde então, ela ficou comigo, qual um motivo musical magoado, que não nos quer deixar. E, assim mesmo, é preciso livrar-se dele. Tenho centenas de tais recordações; mas, de tempos em tempos, uma delas destaca-se das demais e passa a pressionar-me. Não sei por quê, mas acredito que, se eu a anotar, há de me deixar em paz. E por que não tentar?
Finalmente: estou enfadado e, no entanto, permaneço sem fazer nada. E o ato de anotar é de fato como que um trabalho. Dizem que o trabalho torna o homem bom e honesto. Bem, aí está pelo menos uma probabilidade favorável."
"Deixai-nos sozinhos, sem um livro, e imediatamente ficaremos confusos, vamos perder-nos; não sabemos a quem aderir, a quem nos ater, o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar."
"Oh! se eu não fizesse nada unicamente, por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então! Respeitar-me-ia justamente porque teria a capacidade de possuir em mim ao menos a preguiça; haveria, pelo menos, uma propriedade como que positiva, e da qual eu estaria certo. Pergunta: quem é? Resposta: um preguiçoso. Seria muito agradável ouvir isto a meu respeito. Significaria que fui definido positivamente; haveria o que dizer de mim. "Preguiçoso!" realmente é um título e uma nomeação, é uma carreira. Não brinqueis, é assim mesmo. Seria então, de direito, membro do primeiro dos clubes, e ocupar-me-ia apenas em me respeitar incessantemente."
Maravilhoso!Cada bofetada é uma acordar! Quem tem medo de Dodô? Todos!
ResponderExcluirAdoro este livro! Tenho-o aqui.
Fico feliz em saber que anda lendo este monstro.
Já leu Crime e Castigo também?
Obrigada por refrescar nossa memória com estes trechos. Observei que vc não comentou...Pra quê, não?
Beijos.
Elô
Eloisa, não comentei porque foi o primeiro livro de Dostoiévski que li. Tenho visto comentários de Crime e Castigo, mas ainda não li, está na lista. Certamente eu cometeria um erro falando de imediato porque precisaria reler ou conhecer outros títulos para dizer algo com mais firmeza. Você poderia registrar aqui um pouquinho do autor para os visitantes do blog?
ResponderExcluirGrata, querida.