Temos a grata satisfação de entrevistar os novos escritores, Rita
Magnago e Novaes/, ambos são membros do CLIc, Clube de
Leitura Icaraí. Ela publicou o seu primeiro livro recentemente, e na próxima
semana ele estará lançando o seu primeiro livro de contos.
Novaes/
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Rita Magnago
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Adornando a Vida: Você acha que para o jornalista é mais fácil escrever literatura?
Rita Magnago - O jornalista já tem uma familiaridade
com as letras, o que pode deixá-lo mais confortável e predisposto à escrita em
geral, mas os gêneros são muito diferentes. Acho é que às vezes alguns vícios
da profissão acabam passando para a prosa, como a concisão, a objetividade, a
clareza. É mais raro você encontrar um conto escrito por jornalista usando
muita retórica ou frases imensas, por exemplo, mas a imaginação e a
criatividade não obedecem a regras e o espaço da literatura permite justamente
essa fruição desapegada.
Novaes/ – Bem, o jornalista é treinado para escrever textos claros, de
fácil compreensão, e objetivos, organizando as informações de acordo com sua ordem
de importância. Na minha opinião, isso ajuda, sem dúvida. Mas não basta.
Escrever literatura é bem mais complexo; histórias ficcionais exigem outros
tipos de construção do texto, literatura exige, a meu ver, um texto menos seco
e até menos objetivo. Há espaço para devaneios, para filosofia, para prosa
poética. Mas é fundamental não perder de vista o objetivo final, ou seja, a
história que se quer contar. Então, a união das duas técnicas acho que é o
ideal.
Adornando
a Vida: Que
autores influenciaram sua escrita?
Rita - A influência é
contínua. Há os escritores que nos tatuaram e os que vão imprimindo suas
marcas, por isso gosto de ler novos autores e descobrir talentos, como Mia
Couto, Valter Hugo Mãe e Amos
Óz, por exemplo.
Pensando na
infância, eu diria que me influenciaram Saint-Exupéry e Richard
Bach, pela coisa da magia, do sonho, do lúdico, da viagem que é mergulhar em um
livro. Depois acho que Camus, pela sua verdade, sua força, seu
questionamento do mundo. Saramago, pela forma magistral como lida e usa as
palavras, um reinventor da escrita, na forma e no conteúdo. Em termos de
poesia, eu citaria Drummond, Vinicius, Manoel de Barros, Mário Quintana e
Cecília Meireles.
Procuro variar bastante nas leituras,
incluindo de clássicos a contemporâneos. Esse conjunto me dá uma visão mais
abrangente das pessoas e me ajuda a encontrar a referência em mim mesma.
Novaes/
– Comecei minha caminhada como leitor na poesia. O poeta russo
Maiakóvski foi quem me despertou para a força da palavra e a força das ideias
colocadas no papel de uma forma artística. Depois dele, Ferreira Gullar, Thiago
de Mello, Drummond, Bandeira, João Cabral, Castro Alves e muitos outros. Na
prosa, destaco dois autores através de contos magistrais. Um, “O Espelho”, de
Machado de Assim, e o outro, “A terceira margem do Rio”, de Guimarães Rosa.
Encantam-me os autores que dominam e transformam a língua portuguesa, como o
português José Saramago, o moçambicano Mia Couto e o angolano Valter Hugo Mãe.
O russo Tchekov e o tcheco Kafka são referências importantes.
Adornando a Vida: Há uma ligação
entre ler e escrever?
Rita
– Acho que sim. Quem
gosta de escrever gosta também de ler. É um alimento, uma fonte de aprendizado
e muitas vezes de inspiração. Quantas vezes lendo livros eu paro e escrevo um
poema, por exemplo, ou uma crônica ou um conto. A leitura é fundamental,
aumenta nossa sensibilidade e nos deixa mais perto do que deveríamos ser
sempre: humanos.
Novaes/
– Acho que a leitura é importante para todos. A leitura desenvolve
a sensibilidade, o espírito crítico e amplia os horizontes do leitor. Claro que
quem escreve não pode prescindir dessas conquistas que a leitura traz e, além
disso, encontra na leitura diversificada vários estilos diferentes, várias
maneiras de se contar uma história. Isso é muito rico para o escritor e são
referências que vão, mesmo inconscientemente, ajudando a delinear o seu próprio
estilo.
Adornando
a Vida: A
participação no Clube de Leitura Icaraí (CLIc) tem algum papel na atividade de
vocês como escritores?
Rita
- No meu caso, sim. Até no prefácio do meu livro, Travessia do Verso,
eu conto essa estorinha. O Clube é um ambiente muito estimulante e não se
esgota nas reuniões. Existe uma continuidade diária através do e-mail fechado
do grupo, do blog, do facebook, além de grupos e atividades paralelas ligadas à
literatura.
Os cafés-concertos promovidos pela Dília
Gouvea foram muito enriquecedores para mim. Ela é formada em filosofia,
história, letras e é amante e grande conhecedora de poesia. Quando comecei a fazer
alguns poemas sobre os livros lidos no clube, ela me incentivou muito, me pedia
poesias de acordo com os temas do café-concerto, dizia que eu precisa escrever
mais e assim eu fui fazendo minha produção. Em cerca de um ano já tinha
material para mais de um livro.
Novaes/
– Depois de passar décadas escrevendo apenas poesia, um certo dia
decidi escrever contos. Uns meses depois de ter tomado esta decisão, então em
caráter experimental, veio o convite da Rita para que participássemos do CLIc.
Pensei: vem a calhar! Eu não conhecia clubes de leitura e minha adesão iria
depender do que eu visse na primeira reunião que fomos. Eu não sabia que tipo
de pessoas encontraria lá, enfim, não queria nada que fosse intelectualmente
pedante, nada disso. Disse naquela reunião que a Rita havia me arrastado para
lá e foi mesmo. E hoje eu agradeço muito a ela por essa iniciativa, pois o
Clube de Leitura Icaraí é uma experiência maravilhosa. Alguns contos que estão
neste livro que estou lançando agora foram escritos a partir de ideias que tive
quando estava com pessoas do CLIc.
A poetisa Rita Magnago
recebendo de Dilia Gouvea o troféu de 1º lugar no Concurso de Poesias promovido
pela Glia em 2012
Adornando a Vida: Qual a sensação de
lançar um primeiro livro?
Rita - É uma experiência maravilhosa,
semelhante a todo sonho que você consegue realizar. Ver materializado o
resultado de suas ideias é gratificante, mas ao mesmo tempo vem a dúvida, o
receio, dá aquele friozinho na barriga: será que as pessoas vão gostar?
Acredito que escrevamos para libertar o que quer sair de nós, o que precisa ser
elaborado, traduzido, mas é preciso que haja uma ressonância, que aquele
sentimento seja partilhado para que possa, efetivamente, existir. Por isso não
existe um livro sem o leitor.
Adornando
a Vida: Como vocês avaliam o cenário cultural no Brasil? E a política cultural
do governo?
Rita - O Brasil tem um longo caminho pela frente. As iniciativas culturais
são poucas e falhas, não há planejamento. As escolas não privilegiam o debate
de livros paradidáticos ou a criação conjunta de textos, o que seria barato e
estimulante, ajudaria a disseminar a cultura, o hábito de ler, o poder criativo
e o
entrosamento entre
os alunos. Não existe qualquer incentivo aos clubes de leitura ou venda de
livros com desconto para estudantes e leitores assíduos. Os concursos
literários são raros e dificilmente premiam os textos vencedores em valores. Portugal ,
por exemplo, muitíssimo menor que o Brasil, tem uma vida cultural rica e
estimulante, com palestras, atividades múltiplas em bibliotecas, casas de
cultura, bons concursos. Aqui, ao contrário. Estamos agora na iminência de
aprovação do vale-cultura de R$ 50,00. Incluir o uso do vale na assinatura de
TV a cabo foi um golpe, isso não é cultura. Parece que o tempo todo era um
lobby dessas TVs e a questão da cultura foi usada como argumento para se
conseguir o verdadeiro propósito. Lamentável.
Novaes/ – A cultura brasileira é rica, nosso povo produz cultura quase
naturalmente, tanto nos grandes e ricos centros urbanos, quanto nos campos mais
longínquos e pobres. Mas infelizmente os governos brasileiros ainda não perceberam
a importância da cultura para a afirmação do Brasil. Cultura é poder, é
soberania, é independência. Não basta a economia crescer. É preciso que o povo
brasileiro veja a si próprio, enxergue o que tem de melhor e de pior, e isto só
acontecerá através da nossa cultura, da nossa arte, do nosso cinema, da nossa
literatura.
Novaes/ lança seu livro
de contos, Letras Rebeldes Fluidos insensatos, em março,
no Rio, em Maricá e em Niterói. Posteriormente , o livro estará
disponível também através do site http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br,
com envio de e-mail para conciergeclic@gmail.com.
Para ver o vídeo de lançamento do livro, acesse http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2013/01/nocaute-vista.html
Nós agradecemos a presença dos escritores, Rita Magnago e Novaes/, aqui conosco no blog "Adornando a Vida. Desejamos que voltem mais vezes com poemas, crônicas e contos para que os nossos leitores se encantarem com os seus escritos.
ResponderExcluirSucesso, queridos! Beijos!
Sonia Salim
Sonia, muita grata a você pelo convite, pelo interesse, por esse blog que sempre nos traz surpresas deliciosas.
ResponderExcluirSônia Salim, muito boa a entrevista. O Clic me possibilita várias coisas, dentre elas conhecer esses dois ótimos escritores. Se eu não conhecesse o trabalho deles, ainda assim, seria arrastada pelos títulos dos livros de ambos. "Travessia do verso", tão ricamente ambíguo (eu adoro as ambiguidades. Elas fogem às verdades absolutas), quem é que atravessa ou é atravessado pelo verso? O leitor, o autor ou o próprio verso? Ou será que temos no verso o meio de fazer uma travessia interior ou os próprios versos de Rita terem sua existência efetiva nessa travessia que a autora lhe propiciou?
ResponderExcluirAgora o do Novaes. Letras rebeldes, fluidos insensatos. Tantas são as imagens que esse título me induz a pensar. Vou ficar por ora com a do "burro chucro ou cavalo indomável". Quantos são os processos de domesticagem da letra para formar uma sílaba, uma palavra, uma frase, um conto de diversos sentidos apreendidos? Na pior ou melhor das hipóteses,o título me agrada justamente porque tudo o que está dentro de minha cachola é rebelde e quando, depois da guerra deles dentro de mim para sairem, o que se forma em minha escrita é pura insensatez rsrsr.
Ritinha, não sabia dessa história dos 50,00 que podem ser usados na tv por assinatura. Para quem? Os professores do Estado já tem um bonus para a compra de "livros" (pasmem, da primeira vez era cartão de débito e alguns foram utilizados até para pagar motéis - bem não podemos negar que seja uma boa aula de anatomia. Agora é em dinheiro para não deixar rastro).
Quanto a existência do clube é realmente estimulante, esse em particular, porque temos a oportunidade de ler o que os proprios participantes produzem. Há uma interação interessante e com as novas medidas proposta como os textos coletivos, entrevistas coletivas, brincadeiras que deixam bem mais leve a escrita e faz com que escritores "enrustidos" possam sair detras das letras prazerosamente sem medo ou vergonha.
Agora adorei sua iniciativa Sonia de entrevistar e disponibilizar em seu blog, notícias de novos escritores. É uma oportunidade que temos de conhecer um pouco mais os autores, já que nem sempre podemos estar nas reuniões, encontros nos eventos. A internet é um meio de encontro também, e melhor, sem pressa de pegar o onibus porque esta ficando tarde, ou porque é tanta gente que gostaríamos de falar com mais vagar que acaba sendo pouco o tempo.
Querida Sonia, desculpe o comentario testamento. É que uma ideia se junta com outra e mais outra e acaba ficando tão longo. Não poderia ser jornalista, a prolixidade me persegue. Parabéns e obrigada por compartilhar um pouco mais desses amigos tão bacanas.
Grande entrevista. Cheguei ao CLIc um pouquinho antes da Rita e do Newton. E acrescentaram muito ao Clube. Guardo imenso carinho pelos dois e uma profunda admiração pelo talento poético do casal. Newton é um excelente poeta e um talentoso contador de histórias, e Rita tem, além do indiscutível talento para poético, uma ótima inclinação para a crônica. Parabéns Rita e Newton, que vocês continuem nos brindando com seus talentos literários e suas amizades.
ResponderExcluirValeu, Sonia, obrigado pelo amplo espaço que dá em seu blog à literatura e aos novos autores. O "Adornando a vida" é um farol importante iluminando nossa vida e a cultura brasileira como um todo. Parabéns!
ResponderExcluirAbs, Novaes/
Parabéns pela entrevista! Rita e Newton são expoentes do CLIc e suas obras refletem a riqueza que cultivam no clube de leitura. Conhecê-los foi um daqueles momentos marcantes que nos fazem acreditar que nosso Clube cumpre o seu papel de ser o lugar onde pessoas e livros, leitores e autores, se encontram, e tem ideias. Emoções, sentimentos, amigos, romance, etc.
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