O desamor me
angustia
as incertezas
roem a minha alma
como ratos em
seus ninhos
fazem com os
trapos
Logo agora que a
esperança
surgia feito
algo tangível
fui abandonado
com o coração
ferido
Ah, como eu
odiava!
Era uma golfada
de ciúmes
que lambuzava o
meu interior
ciúme da mulher,
ciúme do homem
que
desavergonhados se amavam
ambos
descarados, felizes, com riso exposto
Prendo-me ao
silêncio
Um silêncio
temeroso que sufoca
e impulsiona-me
para o beco da solidão
Escuro, frio,
delgado, lúgubre
Assim era o meu
mundo
longe daquele
cruel e infiel amor
O vício me
consumia lentamente
A insônia era a
minha companheira, noite após noite
O livro e a
imaginação eram os melhores afagos
dentro do peito lacerado
pela vida
ali onde a morte
faz a ronda
Nas madrugadas
frias e sombrias
rompeu o fio da
ilusão
....................
....................
“Os vagabundos não tinham confiança em
mim. Sentavam-se, como eu, em caixões de querosene, encostavam-se ao balcão
úmido e sujo, bebiam cachaça. Mas estavam longe. As minhas palavras não tinham
para eles significação. Eu queria dizer qualquer coisa, dar a entender que
também era vagabundo, que tinha andado sem descanso, dormido nos bancos dos
passeios, curtido fome. Não me tomariam a sério. Viam um sujeito de modos
corretos, pálido, tossindo por causa da chuva que lhe havia molhado a roupa. A
luz do candeeiro de petróleo oscilava no balcão gorduroso. Homens de camisa de
meia exibiam músculos enormes, que me envergonhavam. Encolhia-me timidamente.
Não simpatizavam comigo. Eu estava ali como um repórter, colhendo impressões.
Nenhuma simpatia. A literatura nos afastou: o que sei deles foi visto nos
livros.” (Angústia - Graciliano
Ramos)
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Sonia Salim