23/01/2010

A delicadeza da tia Bené

-->
Uma tarde dessas, que o calor sufoca até a alma, a campainha tocou e como meu apartamento se estendeu em obras descendo até o quintal, o percurso é longo até chegar ao portão de atendimento. Era um cliente solicitando o trabalho de meu marido, e estava com o netinho de mais ou menos quatro meses ao colo. Uma graça de criança, seu nome, Gabriel. Não havia sombra na parte térrea, senti no momento uma necessidade de plantar árvores no local, pois até o carteiro sofre quando tem de esperar para entregar correspondência que necessita de assinatura. Então, com pouquíssima sombra o avô do Gabriel conversou com meu marido enquanto eu observava os cabelos lisos e soltinhos do menino, muito bem cuidado que me levou a lembrar de uma história paradoxal. Contarei por que o cabelo do Gabriel chamou minha atenção.
É uma história curiosa, coisa de gente com pouca vivência, mãe de primeira viagem.
Havia uma mãe que deu a luz a uma linda criança, era uma mulher um tanto madura no alto dos seus 30 anos, mas sem experiência com recém-nascido. A nova mamãe tinha medo de lavar a cabeça do bebê por causa da moleira. Lavava com a maior delicadeza possível, mas a sujeirinha ia aos poucos acumulando. Então, com o tempo foram multiplicando-se em casquinhas. Ela pensou que era normal e continuou suas tarefas e não se dava conta da razão daquelas casquinhas estarem ali. E as pessoas que viviam ao redor dela, como eram delicadas nada diziam ou ensinavam, até que um dia a mãe recebeu a visita da tia Bené, mulher experiente, bondosa e também muito delicada. Ela observava o banho da linda criança e percebeu as casquinhas, parecia até que estava ali com o propósito de ajudar e ensinar. E estava. O banho havia terminado e as casquinhas continuavam todas ali na cabeça da criança. Intrigada, mas com muito jeito e carinho tia Bené ensinou como massagear cuidadosamente o couro cabeludo com a ponta dos dedos, na altura da moleira, para ir soltando as casquinhas. Tia Bené cumpriu o seu papel de orientadora. E assim como foi ensinado, procedeu a mãe da criança até que todo o cabelo ficasse soltinho e limpinho. A delicadeza da tia Bené será sempre lembrada.
Qualquer semelhança com outro caso terá sido mera coincidência porque há milhões de tias Benés por aí cumprindo o seu papel com as milhares de mães inexperientes como a da história.
Esta é uma homenagem a todas as tias Benés espalhadas no mundo inteiro. E a minha em especial.

3 comentários :

  1. Que bonitinha essa história! :)

    Não sei o porquê, mas acabei me lembrando de uma outra história. Quando era mais novo, tive de ler um livro para a escola chamado "A Moreninha", de Joaquim Manoel de Macedo. É um enredo totalmente diferente do abordado no post, mas é tão bonitinho. Acho que acabei virando uma pessoa mais romântica em função desse livro.

    ResponderExcluir
  2. A delicadeza deveria ser sempre valorizada e vejo que ela sendo , na pressa, no egoismo, sendo esquecida.Delicadeza seua em pensar na sombra para o carteiro, delicadeza de Tia Bené em dar uma lição com amor. É preciso mostrar muitas casquinhas ao mundo e sempre de forma meiga , romântica.Fito tem razão , sua história tem ligações com A Moreninha, com um mundo onde crianças assistem um idoso morrer e são, por isto, abençoadas!
    Uma delicadeza para minha alma a leitura do texto nesta madrugada.Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Fiquei muito feliz em poder compartilhar "a delicadeza da tia Bené" com vocês. Que legal saber do romantismo do Fábio em função da leitura da obra A Moreninha! Que gostoso é ter as casquinhas dos olhos caindo quando recebemos da Elô novos títulos para leitura! Maravilha saber que uma simples história pôde sugerir a lembrança de uma obra tão especial como A Moreninha. É muito bom recebê-los aqui. Grata. Beijos duplicados.

    ResponderExcluir

Faço a moderação dos comentários, por isso ao enviar sua mensagem, aguarde pela aprovação. Comentários ANÔNIMOS ou com links NÃO serão publicados. Lembre-se de assinar!

Grata

Sonia Salim