Uma educação de qualidade somada aos incentivos da família fez da vida de Antonio Carlos Ribeiro Jr. um grande estudioso das artes, especialmente da música e literatura acumulando, ao longo dos anos, conhecimentos dos mais variados, focando também a pintura, arquitetura, expandindo pelo vasto mundo cultural, trazendo até nós essas riquezas pela troca de saberes e experiências, fazendo-nos viajar virtualmente ou não, em grandes aventuras culturais e assim favorecendo a todos.
Adornando a Vida – O seu conhecimento sobre música é muito
vasto. Fale um pouco sobre o que representa a música na sua vida. Quando foi
que surgiu o seu interesse pela arte?
Antonio Carlos - Ao longo da minha vida, naturalmente,
manifestações da cultura pop me chamaram atenção, me cativaram. Meu pai,
funcionário público, tinha por hobby desenhar (e desenhava muito) foi também um
grande apreciador dos grandes desenhistas e heróis das histórias em quadrinhos
da época de ouro (décadas de 1920, 30 e 40). Claro, me influenciou a desenhar e
apreciar os quadrinhos (gosto até hoje). Minha mãe, também funcionária pública
sempre teve um gosto apurado (bastante influenciada pelos filmes de Hollywood,
sempre gostou de 'Frank Sinatra' e 'Bing Crosby'). Ela sempre me disse que
quando eu era pequeno, no berço ainda, ela sintonizava o rádio próximo a mim na
rádio Eldorado AM - famosa à época (final dos anos 1950, começo dos anos 1960)
por tocar muita bossa nova para os ouvidos paulistanos. Com cinco anos de idade
me levaram ao cinema para assistir 'Ben Hur', de 'William Wyler', com 'Charlton
Heston'. O meu pai adorava comprar enciclopédias - foi professor de geografia e
história - e as lia sempre ao meu lado fazendo com que eu me acostumasse a
segurar os livros, folhá-los, ver as fotos, e me explicava sobre diversas
coisas que ali estavam escritas. Com seis anos de idade um fenômeno de sucesso
na televisão me pegou em cheio: a Jovem Guarda, na TV Record. Assistia todos os
programas. Ganhei discos do Roberto (o primeiro foi ‘O Calhambeque’), do Erasmo
e fui estudar piano e violão por conta disso. Daí para assistir e gostar dos
maiores programas musicais que a TV brasileira já produziu um pulo: ‘Dois na
Bossa’, ‘Show do Dia 7’, ‘Roquete Pinto’, os maravilhosos Festivais etc... Por
causa dos festivais vislumbrei, aos oito anos, com grandes artistas de sucesso
à época como 'Elis Regina', 'Wilson Simonal' e 'Jair Rodrigues'. Ganhei o
compacto de ‘Disparada’, com ‘Jair Rodrigues’ e ‘A Banda’, com ‘Nara Leão’. Com
os festivais veio o “desbunde” com 'Caetano Veloso', 'Gilberto Gil' e ‘Gal
Costa’. Só depois, mais tarde, fui entender o que foi a 'Tropicália'. Quando
não estava na escola estava em frente à tv assistindo 'Nacional Kid', 'Batman
& Robin', 'Vigilante Rodoviário', 'Ultra Man', 'Ultra Seven', os desenhos
da dupla 'Hanna & Barbera', 'Os Agentes da Uncle', 'Thunderbird no Espaço',
'Perdidos no Espaço' e tantos outros. E ainda Roberto Carlos, e por causa do
Roberto cheguei aos 'Beatles' (ao contrário de muitos).
Sabemos da importância de despertar o hábito da leitura desde os
primeiros anos de vida. Como foi o seu despertar para a literatura e de que
maneira você promove isso nas novas gerações?
Como disse anteriormente, o meu pai lia (revistas, jornais,
enciclopédia e coleções) sempre ao meu lado fazendo com que eu me acostumasse a
segurar os livros, folheá-los, ver suas fotos, me explicava sobre diversos
assuntos ali escritos. A literatura chegou tarde, no colegial, de forma obrigatória,
mas muito antes, por causa das enciclopédias do meu pai, ler sobre futebol nos
jornais e na revista Placar (tinha desde o nº 1), resenhas de música também em
jornais (recortava todas e colecionava) e na revista POP (coleção desde o nº 1
também) me ajudaram a criar o gosto pela leitura, a não ter preguiça de ler.
Conforme fui amadurecendo - já na adolescência - e cercado por amigos (bem mais
inteligentes do que eu) que já tinham o hábito, a prática da leitura de livros
chamados sérios, fui sendo influenciado por eles e também por uma namorada de
quinze anos que me apresentou simplesmente 'Clarisse Lispector', em 1976. Deu
um nó na cabeça. (rindo) Éramos uma turminha bem diferente. Quanto ao incentivo
aos novos (crianças e jovens) tento fazer o mesmo que meu pai fez comigo, agora
com um ganho maior, utilizando a internet que é maravilhosa ferramenta, uma
imensa biblioteca para quem quer aprender e estudar. Descobrir belas coisas.
Os livros digitais vieram para que tipo de público? Você vê
possibilidades de melhor disseminação da leitura, visto que há disponível uma
variedade de livros ao alcance do novo leitor?
Como tudo que já foi criado, e continuará sendo, pelas
grandes empresas de alta tecnologia os livros digitais são para todas as
idades. Caberá ao usuário gostar e/ou se adaptar as novas mídias, aos novos
tempos, a nova realidade instaurada. O ato de ler, o gosto pela leitura, pra
mim, acredito, dependerá de estímulos externos - pais, educadores, as
companhias. O meio enfim.
Grandes mudanças, transformações efetivas são desejos de muitas
pessoas. E a leitura pode proporcionar uma renovação gradativa da vida
interior. Você poderia citar algum livro ou fato que teve relevante importância
na sua vida?
Literatura, como todas as manifestações artísticas, enriquece
a percepção da vida, do que está ao seu redor. Força você a compreender outras
linguagens, te empurra para um nível mais alto a procura de novos signos, novos
repertórios. Quanto mais absorvemos ideias e pensamentos acerca do sentido da
vida, do porque existirmos (as sempre delicadas questões metafísicas) mais
questionamos os valores e as regras sob as quais vivemos. Os horizontes abrem à
nossa frente. O que e o quanto você melhorará, se renovará interiormente, pra
mim, sempre será subjetivo, uma questão de foro íntimo. Mas que algo mudará e
te transformará não tenho a menor dúvida. Um livro ou um evento apenas
seria impossível de destacar. Há sempre um conjunto de fatos (intencionais ou
ocasionais) que nos marcam a vida. Ganhos e perdas (físicas e/ou emocionais)
pesam muito em nossa trajetória de vida. 'O Príncipe', 'Admirável Mundo Novo',
'1984', 'Revolução dos Bichos', 'O Processo', 'As tragédias de Shakespeare',
''O Coração das Trevas (e o seu correlato no cinema 'Apocalipse Now'), 'A Idade
da Razão', 'Henfil na China', a poesia de 'Rimbaud', 'Verlaine', 'Charles
Baudelaire', 'Emily Dickinson', 'T S Eliot', 'E E Cummings', os filmes do
Werner Herzog', do 'Chaplin', do 'Wood Allen', '2001 - Uma Odisseia no Espaço',
'Cabaret', a trilogia do 'Poderoso Chefão', três visões do amor completamente
diferentes entre 'Império dos Sentidos', 'Annie Hall' e 'Casablanca' e tantos
outros do cinema francês, japonês, italiano e alemão dos anos 1970 e 1980.
O avanço das novas tecnologias, a “democratização” da internet, as
redes sociais – qual a sua percepção de tudo isso?
Como disse anteriormente a evolução tecnológica é
inevitável, gostemos ou não. Haverá sempre a necessidade de refletirmos sobre o
“como usar” essa tecnologia. Que benfeitorias todo esse novo universo nos
trará? Quais serão as possíveis consequências do mau uso dessas tecnologias?
Penso que como apreciador de literatura sobre distopia (algumas obras citei em
resposta anterior) governos totalitaristas e repressores (mesmo os disfarçados
em democracia) estarão inclinados à utilização de tecnologia para controlar as
pessoas. Então, o perigo básico da internet é: a exposição exagerada do que
somos, gostamos, com quem estamos, onde estamos, o que temos e por aí vai.
Grandes mudanças, transformações efetivas são desejos de muitas pessoas. Meu também! Abraços e Boa Sorte para nós todos
ResponderExcluirMuito grata, Maria Tereza, pela presença conosco aqui no blog Adornando a Vida. Essa entrevista já estava nos planos há 3 anos e só agora concretizamos, o que é um enorme prazer para todos nós. Fico feliz que você esteja conosco.
ExcluirBeijos!
Sonia Salim
Obrigado, queridíssima Sonia! Um montão de abraços sempre!!!
ResponderExcluirÉ grande a alegria de ter no blog aquele que me impulsionou ao mundo da poesia. Você sempre estará na lembrança como um grande amigo. Amei todo o processo em que ocorreu a entrevista, eu aprendo muito com você. Fique sempre perto.
ExcluirMuito grata. Abraços!
Sonia Salim
Gostei muito da entrevista com Antonio Carlos... Mostra quão importante a influência dos pais sobre a formação intelectual dos filhos...Como é bom ter acesso a diversidade de estilos, quando se trata de arte. Porém, acho que a internet não prejudica à educação. Se assim fosse, não estaríamos lendo esta bela entrevista.
ExcluirBem-vinda, Rosangela! Sim, o nosso entrevistado, Antonio Carlos, mostra claramente como é importante o papel da família na educação dos filhos. É como uma semente plantada que no tempo certo vai germinar e produzir frutos equivalentes. A família atualmente tem deixado muitos encargos à escola que por sua vez não tem a obrigação de dar conta de tudo. É uma parceria.
ExcluirSim, concordo, a internet é nossa aliada, o exagero é que provoca desconforto.
Muito grata, querida! Beijos!
Sonia Salim
A vida só é vida quando a arte faz parte dela. Obrigada, Sonia, por nos lembrar sempre disso.
ResponderExcluirMuito grata, Rita, bom dia! É verdade, parece que humaniza, ameniza o nosso dia a dia que é tão rude.
ExcluirBeijos!
Sonia Salim
Sonia
ResponderExcluirBela entrevista.
A tecnologia é inevitável. Como em tudo na vida precisamos ter sempre muito cuidado, cautela, saber onde pisar, como agir, e mesmo assim é a globalização atuando em nossas vidas e precisamos acompanhar
Parabéns
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
Bom dia, Adalberto! Hoje estamos todos sendo obrigados a usar a tecnologia de alguma forma. Acho que isso agiliza a vida e como já foi dito, é necessário ter prudência.
ExcluirGrata. Abraços!
Sonia Salim
Adorei a entrevista.Já sou fã do Antonio Carlos há alguns anos. Sem dúvida uma referência em Música das mais importantes. Parabéns aos dois!
ResponderExcluirMuito grata, Soayan, pela visita e comentário acerca da entrevista com o nosso amigo, Antonio Carlos Ribeiro Jr., o que muito nos alegra.
ExcluirSeja sempre bem-vinda!
Abraços! Sonia Salim