18/12/2011

PALHAÇOS NA PLATAFORMA P-26













Imagens http://www.doutoresdaalegria.org.br/
A sensibilidade de um palhaço que cuida de crianças em hospitais vai além da nossa imaginação, não é mesmo?  Sinceramente, tenho orgulho do meu local de trabalho ter sido certificado pela "Riso 9000". 
E a sua Empresa? Já foi certificada?                                                            
                                                          Autor do post: @Fitoplancton


A viagem para a plataforma P 26 da Petrobras

Por Soraya Saide

A viagem começa como um trava língua: palestra na plataforma da Petrobras P-26. Tropeçamos nas sílabas, sem perceber o que nos espera.
De que essa era uma viagem de encolher, de dar conta de que somos pequenos, quase nada, que estamos pequenos, temporais nesse mundo. Somos risíveis e balançamos com as marés. 
Aos poucos vamos abandonando o mundo conhecido _ descemos do avião no Santos Dumont, mais de duas horas de carro até Macaé. Dali em diante, mar a vista e um helicóptero para encurtar a história.
No heliporto começamos a encolher, nossas bagagens não podem ultrapassar 15 quilos.
Somos revistados, o que me seca a garganta, apesar de entender de que se trata de segurança nacional, uma lembrança da ditadura me provoca incômodo e constrangimento.
No heliporto um clima de comércio, marinha e aeronáutica, estrangeiros e brasileiros conversam.
Um quiosque que só na volta me dei conta, vende seguros de vida.
Finalmente embarcamos, o helicóptero fará 3 escalas, seremos os últimos a desembarcar.
O co-piloto nos instrui sobre segurança no vôo, vestimos o cinto com o colete salva-vidas, levamos tampões para o ouvido. Ele fala com dificuldade, gagueja nervoso, é seu primeiro dia com aparelho fixo nos dentes. Parece coisa de palhaço, tudo combina com a gente!
Por uma hora vemos só céu e mar, aos poucos aparecem as palafitas escuras, pequenas a distância como que um helicóptero vai caber nela? E como nós vamos caber nela?_ mas quando nos aproximamos, a palafita cresce, tem 3, 4 andares. A pista de pouso se destaca verde e redonda, alguém desembarca, a grande vespa levanta vôo. É impossível conversar, o barulho é muito forte, cochilo.
Alagados gerais... são muitas palafitas, quadradas plantadas no mar alto e navios. De longe o caos de uma favela, um amontoado de ferro vertical, algumas soltam fogo, estranhos dragões ofegantes.
Depois aprendemos que as que soltam fogo produzem gás, as secas são as sondas farejadoras do sangue negro da terra. Finalmente chegamos a nossa P26. A nossa solta fogo! O fogo acima de tudo como um estandarte encantador e medonho. Encolho. 
Mãos enluvadas nos ajudam a descer, grandes óculos nos olham, e capacetes nos orientam a direção, macacões laranjas nos guiam pela escada, descemos um lance. Damos numa sala, me percebo tonta, deve ser da viagem. As pessoas começam a descascar, desluvam, desoculam, descapaceteiam, a acolhida é calorosa. Eu e Angêlo acompanhados pela Catia, somos recebidos pelo Herval, coordenador, Mara a enfermeira, Ana e Lourenço nos tiraram do helicóptero. Eu tão acostumada as máscaras, não os reconheço sem o aparato de segurança. Geni, Natanael, Ademir, nosso chefe de cabotagem e nosso anjo que nos apresenta todo esquema de segurança que a partir dali devemos integrar. Assistimos a um vídeo, aprendemos os ícones, as placas e setas com as direções, rotas de fuga e de abandono...(isto está balançando! Mas só os palhaços reparam, justo os palhaços acostumados ao desequilíbrio, vulneráveis)... baleeira. Recebemos o nosso cartão T, conhecemos nossa sala de reunião, camarote, e depois seguimos para nossa baleeira, Ademir explica cada coisa, as bóias, as bóias com apito, com sinal de fumaça, o que fazer caso alguém caia no mar, nos ensina a vestir o colete, a prender o cinto na baleeira, que funciona como um João Bobo no mar. Encolhemos mais um pouco, a baleeira passa pelo fogo, há provisão para 3 dias no mar. Cabem 50 pessoas. A vida por um fio e aquela gente passa 15 dias ali, em turnos de 12 horas, dia e noite se misturam, notícias da terra sempre, por telefone, internet, tv, mas são marinheiros pelo avesso, aportados no meio do mar.
Nos receberam com um sorriso baita, lanche farto, muito carinho.
A sala onde nos apresentamos estava enfeitada com balões, cartazes avisavam o horário.
O camarote tem 4 cabinas e um banheiro... e se der vontade de ir ao banheiro, se tiver gente dormindo e se... e minha privacidade?
A plataforma sustentada por dois submarinos é um exercício de equilibrar. Encolho mais um pouco.
Antes da apresentação, mais comida. Natanael cria efeitos para o disquete dos Drs.
Hora da apresentação, a sala pequena deixa todo mundo perto. A interação se dá num tempo bom, tempo pra rir, agir, reagir. Platéia cúmplice, divertida. Tudo o que aprendemos no dia pôde ser contextualizado pelos palhaços, numa dimensão mais leve, baleeira, rota de fuga, área de abandono, cartão T. 1108 dias sem acidentes graves! Que Deus os proteja sempre! Comemoração mais do que merecida.
Sala cheia, mas só os palhaços se dão conta do balancinho do mar.
No final da apresentação, muitos vêm nos cumprimentar, conversar. Muitos sotaques, fisionomias. Fábio O+ me impressiona, um garoto de pouco mais de 20 anos! E em seu macacão o tipo sangüíneo faz lembrar a profissão de risco.
Tratam a plataforma como um navio, Guilherme e Adriano nos levam pra passear até a pista. A noite o fogo esquenta o ar, grande, majestoso como um vulcão.
Na noite escura percebemos ainda mais as ilhas de gente, dezenas, semelhantes a nossa P 26. De novo encolho mais um pouco.
Uma queda de energia faz com que se libere mais gás e o fogo sai com mais intensidade... como é bonito e medonho, meu Deus!
Guilherme tem uma teoria de que as plataformas comprovam as previsões de Nostradamus, que chegaria o dia em que haveria cidades de ferro sobre o mar, cuspindo fogo, habitadas por homens chifrudos _ afinal passam 15 isolados ali. Muitas risadas no meio da noite. Voltamos para o refeitório, mais comida, conversa e um forró toca no rádio. Aos poucos todos vão dormir.
Confesso que dormi pouco, tive um acesso de tosse e fui tossir no banheiro. Meu reino por uma bala!
Na manhã seguinte, passeamos pela nossa P-26, tiramos fotos, pra levar de lembrança o lugar e os amigos que ganhamos.
Comento minha noite e minha inaptidão naquele espaço e escuto: ah, eu começo a me achar no décimo primeiro dia e vou embora no décimo quinto...
Faltou tempo pra agradecer cada um pela atenção, pelo carinho, pelo cuidado, pela simpatia... Quando o helicóptero levantou vôo macacões laranjas acenavam com mãos enluvadas, mas agora nós conhecíamos cada um. "Vamos ficar com saudade!" Foi o último comentário...
Já é junho e estou com saudade, não esqueço. Presto atenção ao noticiário, me encho de orgulho quando descobrem outra bacia de Campos mais funda e sei que os nossos amigos vão estar lá trabalhando bonito, inventando maneira desse óleo todo virar vida.
Um novo trava língua me assalta: plataforma, palhaço e petroleiros têm uma profunda irmandade. 


Soraya Saide

                  (carta escrita em julho de 2004)

Doutores da Alegria


Doutores da alegria é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que já realizou mais de 800 mil visitas a crianças hospitalizadas de São Paulo, Recife e Belo Horizonte. Sua missão é promover a experiência da alegria como fator potencializador de relações saudáveis por meio da atuação profissional de palhaços junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde – e compartilhar a qualidade desse encontro com a sociedade com produção de conhecimento, formação e criações artísticas.

11 comentários :

  1. Lindo trabalho! Pura arte! Arte que modifica vidas! Beijos.

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  2. Oi,Aline, obrigada pela gentileza da visita e comentário. Excelente trabalho dos Doutores da Alegria! Fiquei feliz com a sugestão de @Fitoplancton de fazer postagem com a emocionante carta de Soraya Saide. E com isso divulgar um trabalho tão interessante dos @doutores .

    Beijos!

    @soniasalim

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  3. Quero agradecer a importante participação de @Fitoplancton no blog Adornando a Vida, trazendo o trabalho dos Doutores da Alegria, através da carta de Soraya Saide que muito nos emociona quando conta a viagem para a Plataforma P-26. A carta é uma linda viagem pela emoção, cada vez que leio percebo o grande coração que tem a autora.
    Muito grata mesmo, @Fitoplancton! Você é genial! Tem coração de palhaço. rs Acho que eu também...

    Beijos!

    @soniasalim

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  4. Meu Blog esta em festa...
    Em janeiro completamos 1 ano

    Passa lá, pegue seu selinho e participe da Promoção de Aniversário!!!
    Um grande Beijo
    Débora Mendes

    http://deboramfelicio.blogspot.com/2011/12/promocao-de-aniversario.html

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  5. Foi um grande prazer participar do blog que está sempre adornando a minha vida. Obrigado pelo carinho e por apreciar a mensagem emocionante da Soraya Saide (Dra Sirena) e o trabalho magnífico dos @doutores.
    Acho que temos mesmo coração de palhaço! :o)
    @Fitoplancton

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  6. Princesa, passando pra lhe dizer que estou com muita saudade de você.
    Lhe parabenizar + uma vez por seu lindo e útil Blog.
    Lhe desejar um Feliz Natal.
    Pedir ao aniversariante que lhe de muitas bençãos.
    Nós te amamos.
    Deus, Jesus e eu.
    BeiJanesss com carinho.
    Jane Di Lello.

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  7. Oi, Débora, obrigada pela gentileza do convite e da visita.
    Sucesso, querida!
    Beijos!
    @soniasalim

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  8. Isso mesmo, @Fitoplancton , as pessoas que têm coração de palhaço não envelhecem nunca! Oba! Já embarquei nessa viagem multicor! rs
    Sucesso, querido!
    @soniasalim

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  9. Jane Di Lello, querida, sua presença traz muita alegria para o nosso coração. Sou sempre grata pela sua amizade e gentileza. Desejamos que 2012 seja um ano de muitas bênçãos em sua vida e de todos que estão perto.
    Felicidades!
    @soniasalim

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  10. Adorei o nome do seu blog! Muito criativo! Parabéns pela postagem!

    Ana Carolina
    http://palavrasonhada.blogspot.com

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  11. Oi, Ana Carolina, fico feliz que tenha gostado.
    Bem-vinda, sempre!

    Beijos!

    @soniasalim

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Grata

Sonia Salim